quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Com a Boca no Mundo e Soltando O Grito de Revolta!!!



Mais uma vez temos que presenciar esse tipo de coisa em nossa cidade a capital negra do nosso país. Estava pensando em postar uma matéria no blog falando sobre a falta de consciência dos nossos governantes, principalmente a prefeitura de Salvador em instituir o feriado no dia da consciência negra em nossa cidade, assim como é feito no Rio de Janeiro e outras demais cidades, pois é inadmissível que Salvador que tem a maior população negra fora da África não dedique esse dia para celebrar as manifestações culturais e sociais do movimento negro mobilizando toda cidade, assim decretando a paralização das demais atividades, ou seja, oficializar de fato o feriado do dia da Consciência Negra em Salvador. Mas assim que cheguei de viagem me deparei com uma situação que ocorreu com uma irmã de militância e seus colegas nestes últimos dias em um dos locais de maior concentração e manifestação da cultura negra em Salvador e justamente por isto resolvi delatar aqui nesse espaço de discussão:


ACONTECEU COM A IRMA DE ILKA!!!

Taxista simula assalto e passageiros são agredidos por policiais Sucessão de equívocos ocorreu após show no Pelourinho

Um taxista, motivado pelo racismo, simula uma tentativa de assalto, acusando os passageiros - três jovens negros - e despertando a atenção de uma viatura da Polícia Civil de onde saem três policiais armados que, antes de qualquer esclarecimento, xingam e agridem os jovens, deixando, inclusive, um deles nú em via pública. Na delegacia para onde foram levados, mais uma sucessão de humilhações e desrespeitos.

O que era para ser um fim de festa tranqüilo para os amigos, Ítala Correia, Saturnino Silva e Henrique dos Santos, virou um pesadelo que tem custado sair da lembrança dos jovens. Na madrugada de sábado para domingo, 26, após assistirem ao show da Banda Lampirônicos, no Centro Histórico de Salvador, os jovens, todos moradores do bairro da Boca do Rio, resolveram pegar um táxi, para garantir mais conforto e segurança na volta para casa. Ledo engano. Entraram no Corsa JRA 1505, do taxista César Augusto da Silva Purificação Santos, de 49 anos (Alvará A-1753), no Terreiro de Jesus. Próximo dali, após passar pelo Campo da Pólvora, o motorista iniciou uma crise de pânico, gritando e demonstrando medo. A princípio, os jovens tentaram acalmar o taxista, pois pensaram se tratar de algum repentino problema de saúde. No início da Ladeira da Fonte Nova, o motorista, ao avistar uma viatura - um Eco Sport da Delegacia do Adolescente Infrator / DAI, parou o taxi e saiu gritando que estava sendo assaltado.

'Até então, ainda não entendíamos o que estava ocorrendo. Primeiro pensamos que ele passava mal, estava tendo uma crise de epilepsia. Depois pensamos que o carro estava sendo assaltado por alguém que estava do lado de fora. Foi uma tensão terrível', explica com tristeza a produtora cultural Ítala Correia, de 21 anos. Quando os jovens conseguiram sair do carro, já que o motorista havia travado todas as portas, já encontraram três policiais com armas em punho apontadas para eles. 'A partir daí foi muito xingamento, humilhação. Revistaram minha amiga de forma abusiva, levantando a roupa dela e xingando-a de puta, vagabunda e outros palavrões. Tive que ficar nú em plena rua', relembra o garçom, Saturnino Silva, de 30 anos.

Na confusão para sair do carro, Ítala caiu e bateu o queixo no chão. Mesmo sangrando, a jovem continuou a ser agredida verbalmente pelos policiais, atendendo ao desespero do taxista que continuava afirmando que os jovens o assaltariam. A jovem foi atendida no 5º Centro de Saúde, no Vale dos Barris, e levou cinco pontos no queixo, além de apresentar manchas roxas pelo corpo.

'Como eu já sai do carro correndo, pois achava que nós é que seríamos assaltados, os policias apontaram a arma para mim e chegaram a engatilhar. Tive que me jogar no chão. Por pouco não fui morto', conta o jogador de basquete Henrique dos Santos, de 28 anos, que havia participado, na manhã de sábado, do campeonato de Basquete de Rua, promovido pela Central Única das Favelas - CUFA. Policiais da 1º Delegacia, no Complexo dos Barris, alegaram que a roupa do esportista (camisa e bermuda largas), foram as razões para despertar o medo no taxista. 'Também, olhem como vocês estão vestidos, olhem para o cabelo de vocês, era o que dizia um dos policiais que nos atenderam na Delegacia, justificando a ação do taxista', conta Henrique.

Os jovens acreditam que a ação policial, ainda na Ladeira da Fonte Nova, só não foi pior porque o tio de Ítala, o comerciante do Pelourinho, Wilson Santos, também morador da Boca do Rio, conduzia seu automóvel, junto com a esposa, e acompanhava o táxi que levava os jovens. Ao ver a movimentação policial, Wilson soltou do carro e se colocou na frente dos agentes, entre as armas e os jovens, tentando convencer os policiais do equívoco que ocorria.

No Boletim de Ocorrência, assinado pelo agente Júlio César dos Santos Batista, está descrita a calúnia e simulação de assalto, com a alegação do taxista de que 'os jovens fizeram movimentos bruscos dentro do carro'. Os amigos explicam que o próprio motorista perguntou se havia alguma porta aberta e todos foram verificar, respondendo negativamente. Depois disso, o condutor travou todas as portas e iniciou o desespero repentino.

Os três jovens já deram queixas em todas as instâncias que tiveram acesso: como o Disk Racismo, a Gerência de Táxi da Prefeitura de Salvador - GETAXI e o Procon, ainda restando ir à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público. Eles esperam que a ação preconceituosa do taxista e a abordagem abusiva dos policiais não fiquem impunes. 'Somos jovens de bem, trabalhamos, não usávamos drogas, nem estávamos cometendo nenhum delito. Toda a suspeita e agressão foram motivadas pela nossa cor, nossos cabelos. É um absurdo que ainda tenhamos que conviver com atitudes como essa', revoltasse Ítala. 'Poderíamos estar todos mortos. Aí seria alegado que estávamos envolvidos com o tráfico de drogas. Já imagino as manchetes: Tentativa de assalto termina com morte de três assaltantes', assustasse Saturnino, referindo-se às práticas constantes no noticiário baiano, quando se trata do assassinado de jovens negros da periferia.

André Luís Santana - Jornalista (DRT BA 2226)

Um comentário:

Unknown disse...

Preconceito racial e discriminação: até quando isso vai durar? Quando as pessoas realmente se conscientizarem de que preconceito é burrice.
O negro pensa, ama, fala, raciocina, chora, se emociona, é feliz, trabalha, tem sentimento, igual ao "branco". De que adianta ter a pele branca e a alma negra? Na verdade, a maioria do nosso povo brasileiro, em especial baiano, tem sangue negro correndo por suas veias, só não querem admitir.
Parabéns El pela postagem, que o seu protesto chegue em muitos corações e muita gente pense que a cor da pele não demonstra a dignidade e a capacidade de ninguém.
Um abraço de sua amiga, Gil