terça-feira, 1 de setembro de 2009

Agente Duplo? Traidor? Vítima?

No último domingo assisti a entrevista com o polêmico e controverso Cabo Anselmo, realizada no programa Canal Livre da Rede Bandeirantes, e fiquei perplexo com o tamanho grau de ingenuidade de um homem que participou de treinamentos de guerrilha em Cuba e fez parte da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária liderada por Carlos Lamarca e disse que durante a revolta dos marinheiros não sabia quem era Carlos Marighella e se sentiu coagido a ler o seu manifesto, afirmando não ter idéia das proporções do seu gesto, alegando apenas defender os direitos dos militares praças da Marinha Brasileira. Sinceramente não convenceu, numa roda de bate volta de perguntas onde o tempo todo o Cabo Anselmo se contradizia, o próprio se defendia expondo por diversas vezes que tudo não passava de um misticismo em relação ao seu nome. O mais repugnante para mim foi quando ele afirmou ter delatado os seus companheiros, sendo que um deles era a sua própria namorada Soleda que gerava um filho dele dentro do seu ventre, justificando para o ocorrido a sua descrença em relação à ideologia socialista, pois é, a maioria dos seus companheiros delatados foram mortos, inclusive a própria Soleda, fato que para ele seria uma surpresa diante do cenário hostil e brutal protagonizado pela ditadura. A sua descrença não seria um motivo forte para que ele agisse como um agente duplo, desde quando teve chance de fugir para outro país de acordo com as suas próprias palavras contraditórias proferidas durante a entrevista diante das indagações dos jornalistas da Band.


O ex-cabo da Marinha se desviava das perguntas e tentava conduzir o debate para uma via de esquivas e controvérsias, inclusive em determinado momento chegou até mesmo acusar a ALN – Ação Libertadora Nacional de matar militares sem nenhum motivo e causa, por pura banalização. É estarrecedor crer que este homem não tivesse um senso de consciência e agisse apenas por impulso ou somente pela sua própria sobrevivência. E o mais cômico de tudo para não dizer trágico, foi que na última pergunta feita na entrevista pelo apresentador Boris Casoy, depois de muitos desvios e esquivos, ele clamou pela conscientização dos jovens em relação à busca do conhecimento e pelos seus processos ideológicos, realmente, “ideologia, eu quero uma pra viver”, pois como dizia Cazuza, “os meus heróis morreram de overdose” e se meus inimigos hoje estão no poder, foi graças à ajuda ingênua e inconsciente de figuras como o Cabo Anselmo que contribuíram para a história mal sucedida do nosso país.

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