domingo, 11 de outubro de 2009

A Onda: O pequeno facista que existe em nós


O caso tem uma base real, pois aconteceu nos Estados Unidos, mas seu desenvolvimento é pura ficção. Uma escola quer mostrar aos alunos as vantagens e desvantagens de determinadas formas de governo e concepções políticas. Um professor de cabeça arejada deseja pegar a turma que iria explorar os pressupostos do anarquismo. Mas a direção da escola o manda dar aulas de autoritarismo. E lá vai ele, com a melhor das intenções e o pressuposto didático de que a maneira correta de combater uma posição indesejável é mostrar quais são as consequências. O propósito é levar um ideário até seu limite.

Partindo desse princípio, o diretor Dennis Gansel trabalha, de maneira sutil, com as sementes de autoritarismo que existem na cabeça de cada um. Essa disposição pode ser vista como universal. Mas assume forma dramática no país onde se passa a história, a Alemanha, por conta do seu passado recente. Há um preâmbulo necessário. Os jovens já não podem mais nem ouvir falar em nazismo ou Hitler. "Não temos nada com o passado." A despeito disso, a proposta do professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é mostrar como ninguém está totalmente vacinado contra ideias totalitárias e como elas se criam, como atitude psicológica em indivíduos e grupos e como forma política.

Assim, a natural tendência à associação pode levar a uma radical separação entre quem pertence e quem não pertence ao grupo. A idolatria ao líder e o estabelecimento de limites entre o "fora" e ao "dentro", com a consequente intolerância em relação a quem é diferente e não adere ao grupo. Intolerância que pode, no limite, assumir todas as formas possíveis da violência. Isso acontece nas torcidas de futebol, grupos rivais de adolescentes, agremiações políticas. No limite, deu no nazismo e no fascismo.

Embora faça um filme de tese, Gansel trabalha com sutileza, sem forçar a barra. Mesmo porque sua fábula moral é a de uma espécie de aprendiz de feiticeiro. Alguém que manipula coisas perigosas, não sabe a hora de parar e chega a fins indesejáveis. O desfecho é ampliado em relação ao que aconteceu na vida real. Dramaticamente, mostra que a democracia e a aceitação da diferença são bens sempre precários, nunca de fato conquistados. A sombra do pensamento autoritário está sempre presente, no fundo de cada um de nós. Basta olhar para o dia a dia e se convencer disso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente, vejo essas atitudes intolerantes todos os dias. Até entre colegas do curso de Comunicação, que deveria ter pessoas com a visão mais ampla sobre o mundo, me deparo com atitudes e discursos extremistas, que não dão ao outro ao menos a chance de defesa. Ainda fico perplexa com isso, pois acredito que são nossas atitudes diárias que nos levam, muitas vezes, às tragédias sociais.

Iranildes Costa