quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Memória Brasileira - O verdadeiro Carlos da Bahia...


O verdadeiro líder político da Bahia, atuante no cenário político nacional, mas infelizmente esquecido na nossa história, acha que eu estou falando de ACM? Claro que não, pois me refiro ao verdadeiro Carlos baiano, o nosso emblemático Carlos Marighella, um árduo e ativista militante do movimento estudantil e excelente guerrilheiro que lutou contra o regime militar (ditadura) imposto na década de 60, mas a nossa nação fez questão de apagar o seu registro em nossa história e sabemos que a memória popular está atrelada somente àquilo que se passa nos meios de comunicação políticos e se dispersa com a mesma facilidade de grãos de areia jogado ao vento.


Morto durante o regime militar, a história encarrega-se, aos poucos, de desmistificar a imagem daquele que já foi considerado o "inimigo público número 1"

Marighela, dentro de um fusca (à direita) tinha um encontro marcado com freis dominicanos à altura do número 806 da Alameda Casa Branca. Mas o delegado Fleury o esperava lá. Foi morto com quatro tiros.

Quatro de novembro de 1969, São Paulo. Em uma operação que envolveu um total de 29 homens, a equipe do DOPS chefiada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury mataria Carlos Marighella, o líder comunista mais procurado do Brasil, em uma emboscada na Alameda Casa Branca. As ordens eram claras: Marighella não deveria ser preso. Na disputa pelo mérito de ter eliminado o fundador e comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma investigadora foi morta e um delegado foi ferido.

Desde a volta do exílio em Cuba, em 1979, Clara Charf, viúva do líder comunista, empenha-se em resgatar a memória e desconstruir a imagem do "inimigo público número 1" criada em torno da figura de Marighella. "Ele acreditava que nada poderia ser transformado sem luta e é isso que estamos fazendo. Mesmo quem discordava dos métodos utilizados por ele reconhece a sua coerência e coragem durante toda a vida", diz.

Na opinião de Clara, a realidade atual poderia ser outra se Marighella não tivesse sido assassinado em 1969. "Ele utilizou todas as formas de luta de acordo com cada situação que enfrentou e nos dias de hoje não seria diferente." Durante os 58 anos de vida, passou por todas as experiências pelas quais um revolucionário poderia viver e, afirma, jamais cruzaria os braços.
Para o cientista político Alcindo Gonçalves, a opção da luta armada contra o regime militar seguida por Marighella e pelas dissidências do Partido Comunista não foi acertada. "Todas as experiências duraram pouco tempo e não tiveram apoio popular expressivo", disse. A ditadura começou a ceder, segundo ele, quando formou-se um amplo arco de forças políticas contra o sistema, o que revelou ser o melhor caminho. "Apesar disso, a importância dele no processo de defesa das causas populares é única, não apenas durante a ditadura como em toda a vida, e sua imagem precisa ser lembrada por isso."

Segundo Vladimir Sacchetta, um dos autores da fotobiografia "A Imagem e o Gesto" (Editora Fundação Perceu Abramo), se estivesse vivo Marighella certamente continuaria militando na esquerda e apoiando movimentos sociais, como o MST. É importante, segundo Sacchetta, diferenciar a luta armada da época do regime militar do terrorismo atual. "Marighella seria terminantemente contra os atentados ao World Trade Center e terroristas como Bin Laden", afirma.

Filho mais velho de uma família humilde – seu pai era imigrante italiano e sua mãe descendente de escravos africanos – Marighella, nasceu num sobrado da Baixa do Sapateiro, em Salvador. Dos tempos de escola, ficou conhecido pelos constantes questionamentos e por uma prova de física respondida em versos. O poema/prova nota 10 ficou exposto em um mural como exemplo de imaginação criadora.

Ingressou no Partido Comunista no início dos anos 30, via juventude comunista. Em 1932 seria preso pela primeira vez, nas manifestações dos estudantes baianos em apoio ao movimento constitucionalista. Quatro anos depois, já no Rio de Janeiro, onde militava pelo PCB, seria preso novamente e duramente torturado.


Em homenagem ao Carlos da Bahia, o nosso querido Marighella é que mudo a partir de hoje a minha assinatura para El Marighella!!!

2 comentários:

Dioneia disse...

Gostaria de dar sincero parabens a todos que fazem parte deste blog tão especial, pois como todos sabem as informações de região para região muitas vezes nos chegam destorcidas pelo meio convencional de comunicação.
Dionéia Pacheco
Rio Grande do Sul

Aline Araújo disse...

Perfeito meu Caro El Marighella, concordo com Dionéia, o trabalho que vocês realizam realmente é digno de muito aplausos.
Não devemos esquecer que além de um grande revoluciónário, Marighella também foi poeta e seus poemas nao negavam sua política.

RONDÓ DA LIBERDADE,

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem querbradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir até quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

(Carlos Marighella)